Reabertura de templos reforçada pelo dízimo

Apoiar organizações religiosas é a causa mais popular de doações no Brasil, segundo a pesquisa Brasil Giving Report 2020, realizada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS). Na rotina das igrejas, depósitos em espécie feitos durante as celebrações são importante modalidade de arrecadação, principalmente nos templos frequentados por pessoas mais pobres.

Contribuições de fiéis de todas as denominações religiosas levam cerca de R$ 15 bilhões para dentro das instituições. O valor equivale a 65% de tudo o que as entidades arrecadam, de acordo com os mais recentes dados da Receita Federal, de 2018.

A doação online não é a mais comum no Brasil. O estudo do IDIS indica que a contribuição em dinheiro é a opção de 65% dos fiéis. Transferências bancárias e pagamento via cartão de crédito são escolhidos por 23%. Boletos, por 7%.

Celebrações

Neste domingo (11), o pastor Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus,  convocou fiéis para culto presencial, prometendo “um tempo poderoso de milagres e salvação” na pandemia de covid-19. Em São Paulo, a imponente sede da igreja, que abriga até 10 mil pessoas, encheu. Ao final de mais de duas horas de sermões e testemunhos, Valdemiro pediu doações.

“Queria dizer que estamos dando um duro danado para pagar aluguéis, funcionários, fornecedores. Está tão difícil para todo mundo…”, implorou o pastor. Dentro da igreja, números das contas bancárias foram projetados em telões. Valdemiro, no entanto, se concentrou no método tradicional, e seus colaboradores percorreram o templo com envelopes, sacolas de pano e pequenas urnas de madeira. “Você vai colocar uma oferta generosa, com muita alegria. Vai colocar e dar um beijinho: ‘Essa é para o Senhor Jesus'”, orientou.

O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, confirmou a redução nas ofertas, mas disse que é mínima, não justificando sua defesa pela abertura de templos. “O mundo mudou. Para ter uma ideia, 80% de tudo o que recebo de oferta e dízimo é por dispositivos eletrônicos. A queda na arrecadação é ínfima. A prova é que, do ano passado até aqui, eu inaugurei 20 igrejas”, destacou.

Decisão

Na última quinta-feira, porém, o plenário do Supremo Tribunal Federal derrubou a liminar que havia sido concedida pelo ministro Kassio Nunes Marques. Ao afastar os fiéis das celebrações presenciais, o coronavírus reduziu a arrecadação de instituições evangélicas e católicas.

O presidente Jair Bolsonaro ajudou na pressão sobre a Corte. “Supremo fechar igrejas é o absurdo do absurdo”, insistiu ele. Na prática, a limitação das receitas é um dos panos de fundo do lobby religioso para que templos não sejam fechados no pior momento da covid-19.

Presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP) minimizou a questão dos recursos: “O prejuízo maior é para o próprio fiel, que tem seu direito fundamental de aconselhamento espiritual atingido, suas liberdades de culto e liturgia embaraçadas. As igrejas querem cultuar Deus, interceder pelo País neste momento de crise. O financeiro vem depois”.

 

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