Reorganização financeira: especialista explica que ainda há tempo

Ingrid Grill, diretora geral da Maple Bear São Luís

Atire a primeira pedra quem não precisou fazer um certo malabarismo para manter as despesas em ordem no primeiro mês do ano! O problema é que, muitas vezes, mesmo com muita criatividade, é difícil fazer todas as contas fecharem. Ainda mais no início do ano, onde as despesas parecem multiplicar e o dinheiro, desaparecer. Para quem vive esses dilemas, tudo isso parece tão cansativo que, às vezes, a maioria das pessoas só gostaria que tivesse uma fórmula pronta para evitar todo esse desgaste. Bom, a fórmula em si não existe, principalmente por causa de uma importante variável: a subjetividade de cada indivíduo e os valores que carrega. “Cada família vive de um jeito e cada pessoa é guiada pelos mais diversos tipos de necessidades e desejos. Por exemplo: uma pessoa que é fascinada por animais de estimação não pondera gastos com petshops quando um determinado serviço é necessário. Ou uma família que adora viajar também não pondera gastos com um passeio nas férias. E por aí vai. Entretanto, em todos os casos, a chave do equilíbrio é pensar naquilo que você gosta ou quer muito realizar e planejar as formas de adquirir ou viver aquilo”, orienta a psicóloga do Hapvida Saúde, Celiane Chagas.

Por outro lado, apesar de não haver fórmulas prontas e padronizadas para cada lar, existe uma série de estratégias e atitudes que, ao serem lançadas, conseguem auxiliar a organização do orçamento familiar. O primeiro passo, caso você more com outras pessoas da família, é conversar com elas sobre as dívidas e os gastos fixos, e mobilizar todos para organizar o orçamento familiar. Segundo o coordenador do curso de Ciências Contábeis da Estácio São Luís, José Reis, o ideal é que esse planejamento familiar seja sempre realizado no fim de cada ano, mas ele explica que, para 2020, ainda há tempo. “Precisamos saber o que ainda vamos gastar no mês de janeiro. Por ser um mês de muitas despesas, uma saída é a negociação, em especial, em caso de inadimplência. Assim com você está com dificuldade para conseguir pagar, os vendedores nas lojas e os credores também estão com dificuldade de vender. Então, uma boa negociação atende aos dois lados”, enfatiza.

Material escolar

Para os pais, na hora de comprar o material escolar, o especialista orienta: “Pesquisar é a melhor saída. Procure em shoppings, supermercados e veja a variação de preço de cada estabelecimento”, orienta José Reis, que recomenda pesquisas na internet como forma de economizar até mesmo no deslocamento até cada estabelecimento. “Se não todas, a maioria das lojas hoje em dia tem sites e/ou páginas nas redes sociais, onde é possível verificar preços”, lembra.

Impostos

Já nas contas como o IPTU e o IPVA, a “pechincha” não resolve, a técnica aqui é outra. “Todos os anos, nós nos deparamos com essas despesas e nós já precisamos estar preparados para honrá-las. Mas a saída quando o dinheiro não dá é parcelar. Veja o número de parcelamento e siga esta opção. Evite a inadimplência. Lembre-se, caso seja pego em uma blitz o custo será bem maior. Então, um pouco de sacrifício no início do semestre evita que você tenha uma despesa muito maior”, aconselha o especialista.

José Reis também recomenda o provisionamento de recursos para custear esses impostos anuais. “Se o valor total do IPVA e do licenciamento é R$1 mil, por exemplo, o ideal é você ir reservando, ao longo do ano anterior, uma quantia mensal para essa finalidade. Bastaria, portanto, reservar R$100 por mês, durante 10 meses, ao longo de 2019, para garantir o pagamento em cota única, e ainda com desconto, do imposto referente a 2020. Se você não fez isso no ano passado, tente fazer em agora já pensando em 2021”, sugere.

Questão cultural e mudança de comportamento

O número de pessoas com o nome sujo ou com dívidas em atraso alcançou 63 milhões em março de 2019, segundo dados da Serasa Experian. Os números mostram que 40,3% da população adulta segue inadimplente no Brasil. Para evitar que os números alcancem as próximas gerações algumas escolas do país já investem em disciplinas como educação financeira. “Essas disciplinas são fundamentais, pois prepara as futuras gerações para desenvolver nelas as competências e habilidades necessárias para lidar com as decisões financeiras que tomarão ao longo de suas vidas. Contribuindo assim para a redução do número de inadimplentes no Brasil”, pondera o especialista.

Esse retrato reflete uma postura cultural dos brasileiros e a mudança de comportamento é algo que deve ser iniciada ainda na infância. Exemplo disso é o trabalho voltado ao empreendedorismo estudantil desenvolvido por algumas escolas em São Luís. Na escola Crescimento, desde a educação infantil, as crianças aprendem a ter noção de gastos, em aulas lúdicas que ensinam, para além da matemática pura e simples, a relação que existe que existe entre necessidade e desejo. “Aqui, nós estimulamos as crianças a criarem soluções, até porque essa é a nossa metodologia Construtivista. Como o próprio nome sugere, nós auxiliamos a construção do raciocínio dessas crianças. Elas já vão aprendendo que empreender não é abrir o próprio negócio, mas sim fazer o máximo possível com o mínimo necessário, otimizar tempo e recursos, criar soluções e pensar estrategicamente”, esclarece Binha Cardoso, gerente da Educação Infantil no Grupo Crescimento.

Outro modelo que funciona com o mesmo objetivo é o desenvolvido pela escola Maple Bear, que utiliza a metodologia de ensino canadense, uma das mais reconhecidas e prestigiadas em todo o mundo, classificada como a melhor da América e presente no top 10 do ranking geral. A cada três anos, o Pisa (Programme for International Student Assessment) é responsável por avaliar o desempenho de estudantes ao redor do mundo. Entre os melhores resultados, estão países asiáticos, europeus e, na América, apenas o Canadá está entre os 10 melhores, ocupando a 6ª posição geral e o 1° lugar no continente americano. Os Estados Unidos ficaram em 13° no geral. “A avaliação explora áreas de matemática, leitura e ciências. O resultado comprova que o Canadá é referência em educação e isso nos deixa orgulhosos, porque seguimos esse modelo de ensino”, conta Ingrid Grill, diretora geral da Maple Bear São Luís. O Canadá subiu do 7º lugar em 2015 para o 6º na última avaliação. Já o Brasil ficou abaixo da média, ficando em 57º no ranking em leitura, 70º em matemática e 66º em ciências, em um total de 79 nações avaliadas.

No ensino superior, a realidade não é diferente. Especialmente nos cursos afins, os alunos são estimulados a gerenciarem as rendas com consciência financeira. “Na Estácio, os cursos de gestão – Administração, Ciências Contábeis, etc – já têm como disciplina obrigatória a cadeira de finanças particulares”, revela o professor, que complementa: “Se esse profissional não for um bom administrador das próprias contas e finanças, dificilmente ele será um bom profissional de gestão em qualquer empresa”, alerta José Reis.

Vamos tentar? Veja 5 dicas do especialista para dar um jeito nas contas em 2020!

Se você é daqueles que ainda não reorganizou suas finanças para o ano de 2020, veja as dicas do professor José Reis e tente aplicá-las o mais rápido possível no dia a dia.

1) Anote tudo

Anote seus gastos. Desde o cafezinho que você tomou na padaria até a mensalidade da escola dos seus filhos. Tudo precisa ser anotado.

2) Analise seus gastos

Estude seus gastos para descobrir para onde está indo o seu dinheiro e, assim, economize nessas categorias no mês seguinte. Ao anotar, você irá entender como estão as suas finanças a cada mês.

3) Entenda suas receitas

Muito mais do que estabelecer metas, um bom planejamento financeiro inclui conhecer todas as receitas e despesas do orçamento. Ou seja, você precisa compreender exatamente como funciona o seu fluxo de caixa.

4) Reserve parte da sua receita

Separe parte da sua receita para despesas extra, como: remédios, hospitais, desemprego. Essa reserva serve também para as despesas futuras, como IPTA e IPTU que todo início de ano chegam.

5) Pague à vista

Um dos maiores erros e também um dos mais cometidos pelos brasileiros é abusar do uso do cartão de crédito na hora de fazer as compras do fim de ano. Na maioria das vezes as pessoas vão gastando parcelado e quando recebe a fatura levam um susto. Por isso, a dica é optar por compras à vista. Com essa atitude você tem mais controle dos seus gastos e ainda pode conseguir um bom desconto. Nunca se esqueça, que o limite do cartão de crédito não é salário, e sim contas a pagar!

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