Com 18% de mulheres, Congresso só aprova pauta feminina em semanas temáticas

Palácio do Congresso Nacional

A primeira semana de março tem como costume ser de avanço de pautas de direitos das mulheres no Congresso Nacional. Em 2024 não foi diferente, com projetos selecionados pela Bancada Feminina da Câmara sendo aprovados no plenário da Casa. Já no Senado, medidas avançaram nas comissões e mulheres foram premiadas pelo combate ao feminicídio. As medidas, no entanto, encontram dificuldades de avançar em um Congresso predominantemente masculino.

Atualmente, há um total de 107 mulheres congressistas. São 92 deputadas e 15 senadoras. No total, representam somente 18% dos parlamentares no Congresso. As mulheres são 51,5% da população brasileira, segundo dados do Censo 2022.

Apesar de serem minoria, as deputadas e senadoras contam com representação nos espaços de decisão do Congresso por meio das Bancadas Femininas da Câmara e do Senado. Atualmente, essas lideranças são ocupadas por Benedita da Silva (PT-RJ) e Daniella Ribeiro (PSD-PB), respectivamente.

As bancadas femininas são ambientes no qual deputadas e senadoras de diferentes partidos se unem para discutir e articular pela aprovação de pautas que defendam os direitos das mulheres. Foi por meio do trabalho delas que projetos como a inclusão de mulheres vítimas de violência doméstica e familiar e o aumento do crime de violência psicológica cometido por meio de inteligência artificial avançaram no Senado e na Câmara nesta semana.

“Nós, mulheres, temos uma estrutura de força arduamente conquistada no Parlamento nacional”, disse Zenaide Maia (PSD-RN), procuradoria especial da mulher do Senado, por meio de nota. “Ainda há muito a alcançar, mas estamos avançando!”

A deputada Jandira Feghali (PCdoB – RJ) faz uma avaliação similar da importância de mecanismos como a Bancada Feminina. Ela lembra que, por exemplo, as mulheres têm lugar garantido no colégio de líderes, que define a pauta do Congresso. Ainda assim, a pauta feminina encontra dificuldade para avançar por uma exigência de que haja consenso para que uma medida de direito às mulheres seja pautada na Câmara, segundo a deputada.

“Todos os anos a gente tem aprovado [pautas de direitos das mulheres], de fato eles se concentram muito em março e um ou outro a prova pelo meio do caminho, durante o ano”, disse Jandira ao Congresso em Foco. “Agora, é importante dizer que na questão da mulher, em geral, eles [à Mesa da Câmara] botam na pauta quando há consenso, o que não acontece com outras pautas, que são aprovadas por maioria, sem a exigência, que acho absurda, de ter consenso”.

A deputada destaca que a necessidade de consenso não existe quando o tema dos projetos de lei e medidas legislativas são outros, como propostas da área econômica, por exemplo. Com isso, medidas que protegem ou ampliam os direitos da mulher têm mais dificuldade de avançar ou ficam concentradas em semanas específicas, nas quais um acordo é realizado. “Muitos temas importantes, às vezes não tem consenso, mas tem maioria e você acaba não votando”, disse Jandira.

Entre os avanços que as bancadas femininas, a Secretaria da Mulher da Câmara e a Procuradoria da Mulher do Senado conseguiram nos últimos anos estão leis importantes para o direito da mulher na sociedade brasileira, como:

  • Igualdade Salarial entre Homens e Mulheres – a lei nº 14.611 de 3 de julho de 2023 estabelece que mulheres e homens não podem ter salários diferentes se exercem a mesma função. Foi aprovada no Congresso em junho do ano passado depois de uma iniciativa do governo Lula (PT), o que facilitou a tramitação no Congresso; e
  • Lei do Feminicídio – a lei nº 13.104 de 9 de março de 2015 inclui o homicídio “contra a mulher por razões da condição de sexo feminino” (feminicídio) como um crime hediondo. Aprovada pelo Congresso em 2015, a lei do feminicídio é considerada um avanço na punição da violência contra mulher no país, assim como foi a Lei Maria da Penha.

Segundo Zenaide, esses avanços são o que inspiram as bancadas atuais. A procuradora da mulher afirma que nos últimos 10 anos foram aprovadas 83 leis em defesa das mulheres. Atualmente, o foco é a luta contra a violência de gênero.

“Segundo a OPAS (Organização Panamericana de Saúde), a violência contra a mulher é um problema de saúde pública, pois gera danos à saúde física, psíquica e social, provocando incapacidades, estresse pós-traumático e outros transtornos de ansiedade, dificuldades de sono, transtornos alimentares, invalidez, suicídio e até homicídio”, diz a procuradora da mulher.

Por Congresso em Foco

Congresso Nacional só volta aos trabalhos na próxima semana

A Câmara de Vereadores de São Luís e a Assembleia Legislativa do Maranhão retoma as atividades nesta quinta-feira (15), mas os senadores e deputados federais só vão voltar ao trabalho na próxima semana.

Os congressistas voltam suas atividades, no Senado e na Câmara Federal, na segunda (19) e terça (20). Os senadores terão sessão às 14h, da segunda e os deputados federais terão sessão apenas na terça.

A semana que vem será de despedida da política partidária – ou um até logo – de Flávio Dino (PSB), que tem previsão de posse como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 22 de fevereiro. Ele ocupará a vaga aberta em decorrência da aposentadoria da ministra Rosa Weber.

Saiba os temas que devem ser votados pelo Congresso em 2024

Em sessão solene marcada para esta segunda-feira (5), o Legislativo abre oficialmente as atividades de 2024. Na cerimônia, marcada para começar às 15h, estão previstas as leituras das mensagens dos Poderes Executivo e Judiciário enviadas ao Congresso Nacional. A mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve detalhar as prioridades do governo no parlamento.

Entre os projetos que devem ser discutidos neste ano no Congresso Nacional destacam-se as medidas de regulamentação da reforma tributária aprovada no ano passado. Isso porque a Emenda Constitucional 132, que instituiu a reforma tributária, ainda precisa de regulamentação via leis complementares para as principais mudanças começarem a valer.

Os projetos devem ser enviados pelo Executivo e vão tratar sobre a forma de cobrança do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS); o funcionamento do comitê gestor dos recursos do IBS; a compensação de eventuais perdas de receita para estados, Distrito Federal e municípios; e sobre os regimes diferenciados e reembolsos de créditos previstos na reforma.

Outros temas que devem ocupar os deputados federais e senadores neste início de ano são a reoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia, instituída pela Medida Provisória (MP) 1.202, e os vetos presidenciais ao orçamento, que cortaram R$ 5,6 bilhões de emendas parlamentares.

Também devem entrar na pauta de votações neste ano no Congresso Nacional a reforma do Código Civil, a regulação da Inteligência Artificial (IA), a chamada minirreforma eleitoral e medidas para a transição ecológica, como o projeto para o mercado regulado de carbono e a regulação do mercado do hidrogênio verde.

A reforma tributária sobre a renda prometida pelo governo também pode ser discutida neste ano. Além disso, a Câmara e o Senado devem analisar 20 Medidas Provisórias (MP) já editadas pelo Executivo.

Por ser um ano eleitoral, existe também a expectativa de que temas importantes se concentrem no primeiro semestre do ano, já que o segundo semestre será marcado pelas eleições de prefeitos e vereadores, o que costuma reduzir o nível de votações na Câmara e no Senado.

O presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que vai priorizar neste ano a alteração do Código Civil. No ano passado, o Senado instalou uma comissão de juristas para sugerir mudanças na legislação em vigor. A expectativa é que o anteprojeto seja entregue aos parlamentares em abril.

Lula veta calendário de emendas parlamentares

O presidente Lula vetou, nesta terça-feira (2), o cronograma definido pelo Congresso Nacional para o pagamento das emendas parlamentares. O veto consta na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, que foi sancionada neste primeiro dia útil do ano. O veto de Lula será analisado pelo Congresso Nacional, que pode acatar ou não a decisão do presidente da República.

A decisão de Lula deve gerar uma nova crise entre o governo e o Congresso Nacional, uma vez que o calendário instituído pelo Congresso tinha o objetivo de aumentar o poder do parlamento sobre os gastos e, com isso, diminuir a barganha para liberar o dinheiro na véspera de votações importantes. A medida foi publicada na edição do Diário Oficial da União desta terça-feira (2) e manteve o déficit fiscal zero, em uma vitória do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O texto aprovado pelo Congresso previa a destinação de R$ 48 bilhões para o pagamento de emendas parlamentares, sendo R$ 37 bilhões de natureza impositiva. A destinação elevada de recursos para emendas já era uma tendência antiga entre relatores da LDO. A grande mudança é que, desta vez, o governo perde o controle sobre o momento da liberação dessa verba, devendo desta vez cumprir um cronograma prazo de 105 dias para execução das emendas individuais e 90 dias para as emendas de bancada. (Congresso em Foco)