Eleger mulheres para a câmara de vereadores de São Luís é de suma importância. Hoje dos 31 vereadores somente 5 são mulheres, isso demonstra o quanto as mulheres são sub representadas na política local. Ao longo de 75 anos passaram pelo legislativo municipal somente 23 mulheres.
Ao refletir sobre a representação feminina em São Luís, apresentamos, inicialmente, dados de estudo publicado, em 2019, com o resultado de pesquisa Protagonismo Político de Mulheres no Maranhão. Os dados revelaram que, nas eleições de 2016, um total de 190 mulheres, ou seja, 30% dos candidatos, concorreram a uma das 31 vagas de vereadores na Câmara Municipal de São Luís, contra 437 homens, que corresponderam aos 70% restantes. Os dados apresentados esclarecem que a desigualdade de gênero na política começa desde o recrutamento, tendo em vista o número de apenas 30% de candidaturas femininas.
A Cidade de São Luís é marcada por mulheres que fizeram história e deixaram grandes contribuições: Maria Firmina dos Reis, mulher preta que foi escritora e considerada a primeira romancista brasileira; Ana Joaquina Jansen Pereira, uma das maiores produtoras de algodão e cana-de-açúcar do Império, que se destacou por ser uma mulher envolvida na política, embora pese sobre essa mulher muitas histórias relacionadas ao período da escravidão; Catarina Rosa Pereira de Jesus, conhecida como Catarina Mina, preta escrava que se destaca no Maranhão, em virtude de ter sido liberta pelos seus próprios esforços como comerciante e que, graças às suas vendas, conseguiu comprar sua alforria e de muitos de seus amigos. Outra mulher de grande destaque no cenário político do século XX foi Maria José Camargo Aragão, médica e professora que fez história como líder do Partido Comunista do Brasil, tornando-se referência de mulher preta e feminista.
Maria Aragão
Na história política de São Luís, não se pode deixar de registrar e destacar mulheres expressivas como Lia Varela, que assumiu interinamente o cargo de prefeita de São Luís em 1978, sendo também a única vereadora a assumir o cargo de presidente da Câmara de São Luís; e Gardênia Ribeiro Gonçalves, eleita em 1985, em pleno regime militar, sob forte oposição da família Sarney, em virtude de o seu marido João Castelo, ex-governador do Maranhão, ter rompido com a oligarquia dos Sarney.
Lia Varela
Gardênia Ribeiro Gonçalves
Segundo dados levantados nos arquivos da Câmara Municipal de São Luís, embora as mulheres brasileiras tenham obtido o direito de votar em 1932, ela só passam a fazer parte da casa legislativa de São Luís 19 anos depois, em 1951, com a eleição de Maria de Lourdes Diniz Machado.
Quando se analisa a atual legislatura e atuação das vereadoras, observa-se certo distanciamento da ação política das mesmas, com as questões de gênero, ou melhor dizendo: com as bandeiras defendidas pelas mulheres, à exceção da vereadora Silvana Noeli e das covereadoras Raimunda Oliveira, Flávia Almeida e Eunice Chê, que foram diligentes e presentes em todo o processo que envolveu a cassação do vereador Domingos Paz, acusado de estupro de vulnerável e assédio sexual.
O processo, que envolveu a cassação do supracitado vereador, mobilizou durante quase dois anos os movimentos feministas e de mulheres.
Em todo o processo, a maioria das vereadoras eleitas foram omissas, demonstrando que as pautas que dizem respeito às mulheres não lhes dizem respeito. Esse fato revoltou os movimentos feministas e outras organizações solidárias aos movimentos, que passaram a questionar: é importante eleger mulheres?
Sim, nós afirmamos que sim, é importante; mas não se pode perder de vista que, na luta por direitos, igualdade e justiça, a questão de classe, de gênero e étnico racial são determinantes. Fica, portanto, a pergunta: quem de fato essas mulheres e homens eleitos vereadoras e vereadores de São Luís representam?
Este texto é parte das reflexões que estarão publicadas no livro DEMOCRACIA, GÊNERO E SUB-REPRESENTAÇÃO: por que tem sido tão difícil as mulheres alcançarem os espaços de poder? A ser lançado ainda este ano, pela professora Mary Ferreira.